MUBI | Novo Cinema Sul-Coreano

Carol Lima
4 min readFeb 2, 2022

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Desde que descobri o cinema sul-coreano, ao assistir ao soberbo, chocante e inesquecível “Oldboy” (2003) em 2017, que me encontro extremamente fascinada. Conferi menos do que adoraria, admito com vergonha, mas senti algo em todos os projetos conferidos até então. Não tem como sair indiferente de muitas de suas obras porque sempre existe um coração pulsando e uma mente fervorosa nelas. Comentários sócio-políticos bem ácidos são praticamente uma constante, e é justamente um dos pontos que mais me cativam. Eles enfrentam um sistema quebrado sem qualquer medo e, em contos mais fantasiosos como “O Hospedeiro” (2006), com muita criatividade. Além disso, existe um equilíbrio tonal praticamente perfeito em muitos dos casos, o que é assombroso o suficiente para que sempre repare em tal aspecto.

Tendo em vista essa paixão relativamente recente, fiquei muito empolgada ao ver que o serviço de streaming MUBI (o qual assinei há pouco tempo) possui a aba “Novo Cinema Sul-Coreano”, com (até o momento em que redigi esse texto) 6 títulos de promissores novos talentos, como Jeon Go-woon, Kim Cho-hee e Yoon Dan-bi (nomes esses que já figuram na minha lista de diretores dos quais quero ver cada vez mais projetos). E um elemento pelo qual me apaixonei na plataforma é o sistema de avaliação e crítica (seu único defeito sendo o limite de caracteres). Geralmente mantenho as análises para mim, vez ou outra esboçando algo nas redes sociais, ainda que com certa vergonha. Mas não tenho esse sentimento lá, tanto que resolvi divulgar tais comentários e notas aqui no blog, até mesmo como recomendações. Sendo assim, espero que gostem!

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“A DAMA DE BACO” (2016)

Dir.: E J-young

Um verdadeiro conto desolador, aspecto esse realçado por sua crueza. Não existe suavização alguma na abordagem dos tópicos, o que os torna implacáveis quando executados em sua totalidade. O grande destaque vai para a performance de Youn Yuh-jung, cativante, formidável, repleta de nuance e capaz de elevar a película até mesmo em seus momentos menos inspirados.

Nota: 4/5

“LUCKY CHAN-SIL” (2019)

Dir.: Kim Cho-hee

Crises existenciais e uma paixão gigantesca por cinema são o cerne deste lindo conto onde o ressurgimento pessoal e profissional pode vir através de algo tão comum quanto uma conversa com alguém com quem você não tem muita intimidade, ainda que divida um teto com ela. Relações e sonhos são desenvolvidos com ar espirituoso pela diretora Kim Cho-hee, da forma mais sincera possível.

Nota: 5/5

“MOVING ON” (2019)

Dir.: Yoon Dan-bi

Yoon Dan-bi nos conduz por esta trama de forma tão suave, tão verdadeira, que nos sentimos parte da família, ao mesmo tempo em que conseguimos nos conectar com cada membro e entender suas ações e reações por meio de suas respectivas vivências. Magistral em sua simplicidade, e por isso mesmo devastador quando necessário. Impossível não lembrarmos de nossos próprios familiares e nossas interações.

Nota: 5/5

“HEART” (2019)

Dir.: Jeong Ga-young

Até agora, minutos após o término do filme, me encontro em um dilema. A abordagem nada ortodoxa de Jeong Ga-young, um dos grandes pontos criativos da película, foi o que me agradou (além de seus diálogos naturais e ideias), ao mesmo tempo em que me incomodou. O caos narrativo é magnético por demais, mas existe uma perda de gás ao transitar para a metalinguagem; esta, por si só, cativa tanto quanto.

Nota: 3/5

“THE FIRST LAP” (2017)

Dir.: Kim Dae-hwan

É impossível não se compadecer de toda a pressão sentida pelo jovem casal de protagonistas. Nós os acompanhamos tão aproximadamente que as duras palavras vindas de uma mãe parecem nos atingir igualmente, assim como as perguntas cada vez mais exigentes em relação ao matrimônio nos deixam em semelhante angústia. Apesar de cativante em sua simplicidade narrativa, se estende por demais em certos pontos.

Nota: 4/5

“MICROHABITAT” (2017)

Dir.: Jeon Go-woon

Um verdadeiro deleite. A diretora Jeon Go-woon, já em seu primeiro trabalho, mostra uma destreza tonal ímpar, além de saber dosar muito bem o ritmo desta que é uma das tramas mais cativantes e relacionáveis com as quais tive contato nos últimos tempos. Uma alfinetada na sociedade e no seu conceito do que é o “ideal”, e uma carta de amor ao que realmente nos traz felicidade e nos faz ser quem somos de verdade.

Nota: 5/5

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Carol Lima

Um cérebro conectado a uma rede vasta e infinita que faz uns textos sobre a cultura pop e cria uns contos