Crise de Identidade (?)

Carol Lima
3 min readOct 25, 2022

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O icônico painel de John Romita Sr. para “The Amazing Spider-Man (1963) #50” recriado em “Homem-Aranha 2 (2004)” pelo diretor Sam Raimi

A maioria das pessoas que me conhecem sabem da minha paixão pelo Homem-Aranha. Seja entrando em um perfil meu em alguma rede social e se deparando com textos e/ou fotos sobre o personagem, ou conversando sobre qualquer coisa comigo e, olha só, agora estamos discutindo sobre algum filme do herói. É como tentar esconder uma girafa no porta-malas de um Fusca; não consigo evitar falar desse desgraçado.

E isso era algo que causava um certo conflito interno, principalmente no final da adolescência e início da vida adulta. Pensava que teria que provar às pessoas que era apaixonada por outras obras, para que não me associassem tanto a uma única coisa. O bullying na escola, que perdurou por toda a adolescência, meio que foi um pontapé a contragosto na direção dessa mentalidade. Eu não queria me desvencilhar do Aranha, mas como ele era o foco da zombaria, precisei redirecionar toda essa paixão para outro personagem (de preferência de fora da Marvel, para não me lembrar tanto dele).

Fui muito fã de Ben 10 por um período. É sério! Digo, já gostava da animação, acompanhava todos os episódios e sabia os nomes de todos os alienígenas contidos no Omnitrix, mas não era apaixonada. Não era um dos grandes focos da minha vida no que tangia a cultura pop, melhor dizendo. E, ainda que obviamente consumisse obras contendo o Homem-Aranha (nenhum bullying realmente conseguiria me separar desse desgraçado), Ben 10 e tudo a sua volta agora faziam parte dessa minha “nova identidade” àqueles que ainda não me conheciam, principalmente em fóruns de jogos.

Mas isso passou (não antes de consumir até mesmo os filmes live-action, games e… olha, cheguei ao ponto de ir a uma peça do Ben 10 clássico onde os atores usavam cabeçorras dos personagens, o foco era o público infantil e eu era a única garota adolescente naquele ambiente. Pronto, falei. Vamos seguir em frente) antes mesmo do fim da adolescência.

Início da vida adulta. Nada de bullying por perto, mas na faculdade todo mundo meio que parece mais adulto. Essa minha identidade de “a louca do Homem-Aranha” poderia soar infanto-juvenil, não? Sentia que na Internet poderia alternar entre meu amor pelo personagem (e demais heróis e heroínas da Marvel) e por obras bem mais distintas (como filmes e livros de ficção científica e drama) sem problema algum. Afinal, muitos daquela bolha social já me conheciam. Mas na faculdade existia aquele anseio de provar ser tão madura quanto aqueles ao meu redor. Uma verdadeira bobagem que só durou uns poucos meses. Desisti de esconder minhas raízes e foi a melhor decisão.

Eis que chego aos dias atuais. Passei por uns maus bocados na escola por causa desse amor pelo Homem-Aranha? Sim, mas foi justamente essa loucura pelo personagem que me proporcionou coisas maravilhosas na vida e fez com que agisse até um pouco mais confiante em ocasiões. Foi por causa disso que fiz amigos na Internet, gente que estimo demais, que pretendo levar para a vida (e ainda preciso conhecer vários deles em pessoa). Foi por causa disso que até cheguei a ser reconhecida por indivíduos que admiro. Mas mais importante, foi por causa disso que hoje possuo provavelmente as melhores lembranças com meus familiares, principalmente com aqueles que já partiram e que entendiam essa minha loucura.

Prazer, sou “a louca do Homem-Aranha”.

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Carol Lima

Um cérebro conectado a uma rede vasta e infinita que faz uns textos sobre a cultura pop e cria uns contos