A sorte dos Parkers é real em “The Amazing Adventures of Spider-Man”

Carol Lima
8 min readFeb 24, 2022

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Algumas histórias são inesquecíveis, e por isso mesmo são contadas de novo e de novo através dos anos. E tem uma que é tão surreal, apesar de ser verdadeira, que tanto eu quanto minha mãe ainda nos espantamos com o desenrolar de seus eventos por vários motivos em específico. Coincidentemente ela completará uma década em julho desse ano. Admito que isso me assusta, até porque não parece que tanto tempo se passou desde que ocorrera. Bem, tamanho o drama construído neste parágrafo que acho que você está impaciente a ponto de esperar algo verdadeiramente empolgante, então espero não lhe decepcionar. Que acontecimento tão incrível foi esse, afinal de contas?

Sabe aqueles sonhos que julgamos serem impossíveis de se concretizarem? Pois bem, achava que nunca viajaria para fora do país, quanto mais para os parques temáticos em Orlando, Flórida. Mas foi exatamente o que se tornou realidade em 2012. Com isso em mente, nem preciso dizer qual era o meu alvo principal em toda essa empreitada, não é? Marvel Super Hero Island, mas é claro! O dia no qual iríamos ao Islands of Adventure, onde ele se situa, era o mais antecipado; já havia pesquisado sobre todas as suas atrações antes mesmo de embarcar no avião, este que passaria por um vácuo tão nefasto que todos (eu, minha mãe, meus amigos e as mães de dois deles) pensamos que morreríamos antes mesmo de chegarmos ao nosso destino. Mas estou divagando.

Não me recordo exatamente em qual dia visitaríamos o parque da Universal, mas parecia demorar demasiadamente para chegar, sensação essa provavelmente acarretada por minha ansiedade exacerbada. Mas fui tomada por uma antecipação sem precedentes quando, enfim, acordamos e nos aprontamos para conhecer o Islands of Adventure. Com isso, assim que coloquei meus pés no Marvel Super Hero Island… olha, escrever a exata sensação ao me deparar com aquele ambiente não é o suficiente, mas parecia que estava em completo estado de êxtase. O clima da Marvel dos anos 90, que tanto amava nas animações da Fox Kids que me apresentaram a esses personagens na infância, era inebriante e, ao mesmo tempo, confortável. Por mais estranho que pareça, me senti acolhida, de certa forma.

Mas toda essa felicidade enfrentaria alguns percalços, obviamente protagonizados pelo meu personagem favorito da vida, o Homem-Aranha (quem mais seria, não é mesmo?).

Essa era a expectativa desde minha chegada ao parque, mas a realidade foi bem diferente. Essa criança da foto é extremamente sortuda!

Viajamos com um guia turístico, que havia montado um roteiro dos parques que visitaríamos e do quanto que desfrutaríamos de cada um deles. Sendo assim, claro, havia uma limitação, esta que se provou completamente irritante em pouco tempo. Estávamos andando próximos uns dos outros, seguindo-o, quando avistei o Aranha em pessoa. Não poderíamos sair do campo de visão do tal guia em hipótese alguma, então meu anseio de correr para tentar tirar uma foto com meu herói se tornou um momento tenso. Ele ainda se encontrava em frente à loja temática do personagem, então comecei a apressar o passo aos poucos. Não estava sequer próxima o suficiente de tirar meu velho celular Xperia do bolso quando o homem simplesmente adentrou a loja em um pulo, sumindo da vista de todos.

Para me confortar, preferi pensar que ele poderia aparecer novamente quando estivéssemos voltando, visitando a loja, ou até mesmo em algum outro ponto do parque. Mas logo chegamos àquela atração que tanto antecipei a viagem inteira, o que me fez deixar de lado a frustração de não ter tirado uma foto com o Aranha: The Amazing Adventures of Spider-Man. Esse era o ápice de todo o Marvel Super Hero Island para mim. Até mesmo esperar na fila gigantesca foi extremamente incrível, porque o interior do local é uma recriação do Clarim Diário, com direito a um quadro com a carranca do J. Jonah Jameson e mesas de trabalho e portas com os nomes dos principais e icônicos funcionários (além de que o quarto escuro, onde as fotos eram reveladas, tinha marcas de pés e mãos nas paredes e no teto, indicando o sumiço de Peter Parker do recinto). Senti como se fosse a guia turística do Homem-Aranha para meus amigos. E, de acordo com minha mãe, eu simplesmente não conseguia conter o sorriso ao avistar aqueles detalhes. Realmente me senti dentro desse universo que amo.

O cenário como um todo é muitíssimo caprichado. Impossível não se divertir com seus easter eggs.

E agora era a hora da atração principal! Sentamo-nos naquela espécie de carro futurista, colocamos os óculos 3D e partimos para a aventura na qual o Peter deveria impedir as ações do Sindicato Sinistro, aqui composto por Dr. Octopus, Duende Macabro, Electro, Homem-Hídrico e Grito. O misto de efeitos práticos com a animação em CG nos sendo exibida era maravilhoso, porque a imersão era ainda maior. A sensação de estar naquele cenário, vivenciando aquilo, era potencializada ao extremo. Minha empolgação estava completamente fora do normal e já estávamos perto do término, onde nosso veículo cai de uma altura considerável e a teia do Aranha deve nos salvar no último momento. Mas isso não aconteceu. Digo, pegamos o começo da queda, mas a tela escureceu e uma imagem gigante do saudoso Stan Lee em CG apareceu, estática. Ele faz cameos pontuais durante o percurso, e até possui um discurso final (quando já estamos indo embora, de costas para a tela), mas aquilo não fazia parte do script. Perdemos o final e ainda nos deparamos com algo que não era para termos visto.

Antes de prosseguirmos, é importante falar sobre minha timidez na época. Ainda sou bem tímida, mas esse é um traço que era bem mais forte antes da viagem. Era o tipo de pessoa que recebia o pedido de lanche todo errado e não contestava, mesmo que educadamente, para evitar uma possível reação negativa do funcionário da lanchonete, o que faria com que não soubesse como me portar diante de tal situação. Mas quem não me conhecia e me viu saindo da atração feito um furacão, procurando desesperadamente algum funcionário para relatar o problema pelo qual passamos, não iria acreditar no que acabei de falar no começo desse parágrafo. Eu mesma ainda não consigo acreditar. Sabe quando parece que você perdeu o controle do seu corpo, então tudo ao redor se torna um grande borrão? Então, foi exatamente o que senti nessa hora.

Vivenciar uma atração sem igual dessas e perder seu final? Ah, não mesmo!

Minha mãe e alguns amigos estavam comigo nesse caso, então eles acabaram me seguindo. Encontrei uma moça que trabalhava lá e logo relatei o ocorrido detalhada e respeitosamente, com um ar inconsciente de súplica. Pouco depois, ela disse que todos aqueles que estavam no momento do erro poderiam retornar à atração sem enfrentar a fila, que bastava esperar o término do grupo que estava à nossa frente. Tratei de informar minha mãe e alguns amigos que iríamos novamente (se assim eles quisessem, claro). Acho que ninguém acreditou que eu havia resolvido um problema com uma pessoa desconhecida, ainda mais de outro país. Minha mãe sempre diz que estava chocada ao me ver agindo daquele jeito, ao passo que sempre preciso dos relatos de todos os envolvidos por não me lembrar de alguns detalhes.

É uma coisa que não sei explicar, honestamente. Tanto que enfrentei um problema posteriormente em outra atração de outro parque (era uma montanha-russa na qual você poderia escolher uma música para lhe acompanhar durante o percurso, mas deu erro e nada tocou no alto-falante do meu assento), mas não tive vontade de reclamar sobre para ir novamente. O Homem-Aranha tem um efeito estranho sobre mim, onde me torno mais confiante, até mais alegre. Não apenas nesse episódio em específico, mas em diversos outros através dos anos que envolveram o personagem de alguma forma. É como se ele fosse aquele melhor amigo de longa data que te apoia, te dá força, te entende e está sempre ali por você. Sei que isso tudo soou estranho, mas é como genuinamente me sinto.

Curiosamente, The Amazing Adventures of Spider-Man passou por um processo de remasterização justamente em 2012, então conferimos a atração em seu estado mais refinado, digamos.

Enfim, eu, minha mãe e alguns amigos retornamos, adentrando o carro e colocando os óculos 3D novamente, na esperança de que daria tudo certo dessa vez. Devo dizer que, apesar da apreensão gerada pela experiência anterior, a sensação de imersão na aventura foi muito parecida àquela da primeira vez. E, de fato, deu tudo certo. O Homem-Aranha nos salvou da queda, prendendo nosso carro em sua teia, e também deteve todo o Sindicato Sinistro. Tamanho meu alívio, misturado com uma euforia sem precedentes, que gritei “Yeah! Go get ‘em, tiger!” sem medo de ser feliz. Terminada a atração, fiquei extremamente contente ao ver que minha mãe e amigos ficaram satisfeitos ao verem como era o final, e que gostaram dele.

Pouco depois, seguindo o roteiro do guia, fomos à The Incredible Hulk Coaster (já adianto que é incrível mesmo), mas tivemos que esperar a chuva passar. Fui sem pestanejar, claro, mas minha mãe sempre teve medo de montanha-russa, então ela se absteve da experiência. Teríamos pouco tempo na Spider-Man Shop e na Marvel Boutique (se não me engano era essa), então ela usou esse mesmíssimo tempo fora da atração do Gigante Esmeralda para conferi-las e comprar, principalmente, camisetas e casacos. Ela acertou em tudo, mas peguei ainda mais itens na minha passagem pelas lojas. A verdade era que queria comprar tudo, confesso, mas é óbvio que havia um limite (tanto que nunca vou esquecer que já tinha chegado ao tal limite quando avistei uma estampa com o logo da Marvel e uma das artes de Steve McNiven para a saga Guerra Civil. Um de meus artistas favoritos e uma de minhas sagas favoritas. A dor que foi deixar aquela camiseta lá para nunca mais vê-la é sentida até hoje).

E essa foi a nossa breve e marcante passagem no Marvel Super Hero Island. Um dos melhores dias, apesar de não ter mais encontrado o Homem-Aranha (aliás, não haviam as pessoas vestidas de Wolverine, Ciclope, Tempestade e afins, então não teve aquele desfile deles pelo parque). Havia muito mais a ser conferido, de atrações até lanchonetes, mas nada mais se fazia presente no roteiro do guia. Como fã da Marvel, confesso que foi bem frustrante essa limitação da visita, até porque nem sabia se retornaria ao parque algum dia (e a dúvida ainda permanece, amplificada pela pandemia e desvalorização do real). Mesmo assim, nada tira de mim o quão surreal que foi a experiência como um todo. Pode parecer exagero, mas saí de lá diferente. Assim como esses heróis que sempre me inspiraram, fiquei mais corajosa.

Esse parque é uma verdadeira preciosidade. Espero que nunca feche, até porque quero visitar todas suas atrações e lanchonetes, além de encontrar meus heróis favoritos!

E se você, assim como eu, quer saber mais sobre o Marvel Super Hero Island, dos bastidores de sua concepção até a complicação advinda da compra da Marvel pela Disney, basta conferir o vídeo abaixo do canal Panels to Pixels, do qual sou inscrita há bastante tempo. Suficiente dizer que recomendo demais!

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Carol Lima

Um cérebro conectado a uma rede vasta e infinita que faz uns textos sobre a cultura pop e cria uns contos